Histórias contadas pelas pinceladas vibrantes de Almira Reuter
A impressão que tive ao ver as pinturas de Almira Reuter foi que as cores sairiam da tela! Analisando essas obras pude compreender sua sensibilidade e espontaneidade em formas simples e livre das convenções, sempre com uma extrema expressividade nas formas.
De uma maneira narrativa, sua obras contam uma história concreta ou imaginária, ou um pequeno momento, como numa fotografia, com os personagens retratados de maneira simples, e sempre com muita poesia.
Almira é mineira, mas mora em Salvador atualmente, com várias exposições pelo Brasil, Inglaterra, Ny e Itália, eu tive o prazer de conversar com Almira quando ela estava em Roma esperando pelo exposição que aconteceu no dia 21 de março, onde foi a única artista brasileira convidada a participar de um evento para a paz mundial com sua obra ““Palestina, meu amor” junto com outros artistas da Itália.
Uma pessoa de voz doce, tranquila, e que transmite uma paz interior e sensibilidade, e que, gentilmente, respondeu as perguntas que fiz para ela.
Blog It Rab- Você pinta de maneira intuitiva, ou se prende a algumas regras teóricas?
Almira Reuter- A minha pintura é intuitiva, porém quando eu pego um tema, tipo Histórias, eu tenho que me basear em algo concreto. Aí eu parto da fotografia, e faço uma releitura do fato, mas dando minhas cores e formas.
Mas quando faço, sem ser histórias aí é só intuitivo, inclusive, meus amigos morrem de rir, porque eu viro o trabalho de cabeça para baixo, às vezes, e assim nasce nova obra.
Blog It Rab- As suas obras são como uma explosão de cores. De onde vem toda essa espontaneidade? Como as cores surgem nas obras?
Almira Reuter - Acredito que a espontaneidade vem da alma, pois eu me entrego naquele momento. Quando vejo um trabalho na minha frente, eu já vejo cada cor, portanto eu vou pegando, sem pensar "esta combina?", "Ela vai combinar?". Não existe isto comigo, ela vem para minhas mãos naturalmente, eu não penso.
Blog It Rab- Eu observo que na maioria de suas pinturas existe uma história ilustrada. Você se considera uma contadora de histórias?
Almira Reuter- Sim, desde criança que eu adorava histórias, e hoje estou tendo oportunidade de contar histórias de formas diferentes, através de pincéis, escrita e bordado, pois o último trabalho que fiz sobre a Paz Mundial, viajei em meus sonhos, relembrando quando estudava o primeiro ginasial, num Colégio interno que se chamava São Francisco, em Teófilo Otoni, MG, onde tinha aulas de bordados, e lá portanto foi o meu início. Eu fiz naquela época, um enxoval para bonecas, inclusive marcenaria, onde fizemos a cama guarda roupa, criado mudo, estou viajando escrevendo aqui..rs assim eu sou, eu viajo. E agora estou contando histórias muito tristes através dos meus pontos.
Blog It Rab - Suas obras têm muita expressividade, com plena liberdade estética e livre das convenções acadêmicas e dotada de criatividade autêntica. Podemos classificar sua obra como “Art Naïf”, assim como as obras de Henri Rousseau, o precursor francês dessa arte?
Almira Reuter - Sim, a minha liberdade é que mais prezo em meu trabalho. Acredito que por ter nascido nos anos 40, onde eram muito rígidas as regras, inclusive a parte sexual da mulher, a sociedade meio que castrava a gente, e eu, desde pequena, queria quebrar as regras, mas, não conseguia, e tinha muito medo, em quebrá-las. Inclusive, quando saí um pouco daquele padrão, quando tinha onze anos, em plena adolescência, me taxaram que estava ficando louca, acredito por ser tão sensível, e com isto me levaram em um psiquiatra e eu tomei muitos choques elétricos. Aí, sim, quase fiquei louca, fiquei sem estudar, minha autoestima arrasada, mas consegui sair daquele processo. Quando comecei a pintar, comecei a pintar estas minhas dores, estes fantasmas, que a vida tinha me ferrado em ferro em brasa, portanto comecei a conquistar meu direito de falar, de liberdade, de ser, de colocar a cor que eu quiser, pôr o traço que eu quiser fazer, eu não tenho que dar satisfação para ninguém, apenas SER. Se acharem feio, que achem, eu costumo dizer, que ela acha feio, pois viu sua própria feiura, rsrrs, se gostarem que maravilha, se mexer com sua emoção vou ficar muito feliz.
A arte tem sido o caminho para eu ultrapassar meus medos. Para cuidar dos meus fantasmas, para entender o outro, ter complacência comigo e com o outro. A arte, hoje, falo que é minha vida. Sem ela eu morreria, não teria mais vontade de viver. Portanto, a arte me trouxe a liberdade de voar e de SER.
Eu não sei se é “Naif”, muitas pessoas falam que é, mas a maioria dos críticos, e curadores, falam que meu trabalho é um expressionismo ingênuo. Particularmente, isto não me interessa, onde eu entro na arte, onde me colocarem eu aceito e fico muito feliz, apenas quero fazer arte.
Blog It Rab- Como foi participar e representar o Brasil no evento da paz na Itália? E por que falar sobre a Palestina?
Almira Reuter - Foi excepcional, primeiro porque era um Evento que se falava da Paz Mundial e, segundo, eu tenho um querido amigo em Gaza na Palestina, que conversamos muito, eu sinto a tristeza daquele povo, sem liberdade, e quando se fala em liberdade, você viu aí quanto me toca esta tal de liberdade. Me machuca, me coloca revoltada, e a Guerra de 2014 em Gaza foi uma grande tragédia, muitas crianças ficaram órfãs, muitos pais perderam seus filhos......e achei, quando me convidaram para participar deste evento, seria a hora de eu mostrar esta minha posição perante tal fato. E, este trabalho, eu tenho certeza que vai abrir lindas portas para mim, pois comecei um trabalho diferenciado, que nunca vi, e foi criado em cima desta triste tragédia. Que é pintar a seda e depois bordar, quando falo que vai abrir as portas, é porque ele ainda é um recém-nascido, que precisa engatinhar e andar e voar......ele me aguarda surpresas, que ainda para mim ainda são desconhecidas.
Blog It Rab- A obra “Palestina, meu amor” com mais de 3m de comprimento, como foi concebida? Pode falar um pouco? Quanto tempo para ser feita, qual a técnica utilizada nessa obra?
Almira Reuter - Ano passado eu comecei fazendo um trabalho em bastidores, pois estou com uma Exposição pronta esperando um Espaço prometido em SP para fazer. E aí bordei uns bastidores, pois sendo o tema Brasília e JK, não tinha como não fazer bastidores.
Quando eu fiz a Via Sacra, ano passado, aqui no Museu Palacete das Artes, eu queria colocar algo que eu tivesse feito, aí pensei.. vou fazer um xale, e vou bordar cenas da Via Sacra, e assim eu fiz com os bastidores. Ah, eu anos atrás antes de ser artista, bordava a máquina muito bem, bordava para fora, e era no bastidor, bordei muito.
Quando eu, ano passado, estive fazendo a exposição Memórias do Brasil, Imigrantes Italianos no Brasil, em Roma, conheci um Padre que também é um grande artista, e o trabalho dele é belíssimo. Ele borda linhos. Eu mostrei para ele meu manto, ele amou, ficou encantado, então me falou: ”Almira, você tem um trabalho super contemporâneo”, e viajou na maionese, rsrrs, e falou "menina faça isto em tamanho de telas, vai ficar maravilhoso". Eu ri muito, e falei "Padre mas isto dá muito trabalho", ele falou "Imagino! Mas tenta". E assim quando surgiu este evento, nasceu da minha emoção de fazer o trabalho. Eu pensei que teria que ser um trabalho diferente de todos que eu já havia feito, e teria que ser um trabalho fácil para eu manusear, para levar, eu levaria na bagagem. Começo, então, a pensar na possibilidade de bordado, mas eram imensos três metros rsrr, mas encarei o desafio........quase três meses bordando sem parar.
Neste trabalho “Palestina Meu Amor”, Almira produziu um vídeo , que tem o seguinte texto:
“É minha Guernica. Revelo o pedido de socorro destes territórios que produzem tantas mortes, que lutam por sua independência como país. O sangue palestino é adubo para flores que festejarão sua plena liberdade.
Gerações que nasceram na guerra, gritam pela paz e pela identidade de seus cidadãos. Minhas mãos tecem pontos de paz, cores de sonhos e credo próspero à libertação.
Veremos madrugadas livres, sem clarões de bombas, sem casas estilhaçadas, sem sede e sem suor. Veremos o brilho das manhãs em cada pedra, em cada grão de areia livres.
Palestina, meu amor é mais uma voz como tantas outras que clamam por seu chão, suas raízes e suas crianças aspirantes a um futuro. A guerra, qualquer guerra é dos brutos, que não aceitam o diálogo, a lógica e o bom senso. A Palestina vive e será eterna como o tempo que a formatou.”
Este texto foi gentilmente traduzido para o idioma árabe pelo meu amigo sírio Abdeen Ghali.
فلسطين، حبيبتي
فلسطين، حبيبتي - عمل بلاستيكي مرئي والذي أنا ألميرا ريوتر سوف أُقدمهُ في روما - إيطاليا، في ساحة بينسيو العام في مهرجان ريسبتيال إيل موندو ريسبيتات فوا ستيسي. و لوحتي هي كشف الدعوة للمساعدة في هذه الأراضي التي تنتج الكثير من الوفيات و التي تكافح من أجل استقلالها كبلد. الدم الفلسطيني هو سمادٌ للزهور التي ستحتفل بالحرية الكاملة. الأجيال الذين ولدوا في الحرب يصرخون من أجل السلام وهوية مواطنيهم. يديَّ تنسج غرز من السلام وألوان الحلم، وعقيدة مزدهرة للتحرير. سنرى فجرٌ حرة دون ومضاتٍ من القنابل، دون منازل متفرقة، دون عطش ودون عرق. سنرى توهج الصباح في كل حجر و في كل حبة رمل . فلسطين حبيبتي صوتٌ مثل الكثير من الأصوات الآخرين الذين يبكون من أجل أرضهم و جذورهم وأطفالهم يطمحون إلى المستقبل. الحرب و أي حرب هي صادرة عن متوحشين لا يقبلون الحوار والمنطق والحس السليم. عاشت فلسطين ولتكون أبدية كما كانت منذ نشأتها ألميرا ريوتر صيف - 2017
Eu posso dizer que Almira Reuter, com sua postura autêntica, pinta com a alma, imprimindo em suas obras toda sua expressividade e sensibilidade. As cores vibrantes de seus quadros nos levam a mexer com nossas emoções sem subterfúgio, chegando direto aos nossos corações.