Márcia Széliga a Alquimista da Arte
“Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.” PABLO PICASSO
Nesta semana, começo o texto para o blog com esta frase para definir aquilo que representa o trabalho da artista e ilustradora Márcia Széliga que, com traços, pinceladas e múltiplas cores (que à primeira vista imprimem graça e um colorido delicado), podem nos levar a vários significados da representação e da simbolização.
A artista experimenta o mundo com um olhar imaginário e de encantamento, com uma espontaneidade incrível.
Essa paranaense, que mora em Curitiba, possui uma linguagem própria que preserva algo de sua infância. Para as suas ilustrações, certamente deve acessar sua memória afetiva ou sua intuição.
Márcia conversou com o Blog It Rab e pôde falar um pouco sobre seu trabalho e suas expectativas.
Blog It Rab - O que a influencia para elaborar as ilustrações? Algum artista serve de inspiração?
Márcia Széliga - Muitas coisas influenciam, me inspiram, é uma pergunta tão ampla quanto ampla seria a resposta. São as fases da vida, o modo de vida em sua universalidade, a criança, o jovem, o idoso, minha infância, minha adolescência, as experiências que vão acrescentando ao amadurecimento, os animais, as plantas, a natureza toda, o Cosmos. Uma infinidade de temas que, quando me tocam o coração, me inspiram, se apresentam vivos. Temas de fora, temas de povos e culturas e também temas tabus – grandes desafios que vão do profano ao sagrado. Mas em especial são as minhas “lendas pessoais”: os sonhos que tenho enquanto durmo ou mesmo aqueles em que sonho acordada, os insights que chamo de mensagens divinas.
Blog It Rab - Das suas obras, tem alguma com que você mais se identifica? Qual?
Márcia Széliga - Difícil eleger uma única, pois várias representam fases significativas, então vou citar duas extremamente importantes que são: Trajestória, que vem acompanhada de um poema meu e representa uma espécie de noite da minha alma, e Celebração da Vida, que é a luz lançada sobre a minha alma.
Blog It Rab - Quais as técnicas que mais utiliza? Tem preferência por alguma?
Márcia Széliga - Faço uso de diversas técnicas, mas as que mais utilizo são o lápis de cor, acrílica e caneta esferográfica. Gosto demais do lápis dermatográfico também.
Blog It Rab - Suas ilustrações são ricas em detalhes e cores, que vão do encantamento do lúdico, do sonho e o estranhamento do irreal, mas que andam juntos. Você conseguiria definir o seu estilo?
Márcia Széliga - Não sei definir estilo nem sinto essa necessidade de nomear. Muitos chamam de surrealismo, outros de ilustração, outros de arte visionária... Penso que, a partir do momento em que classifico, ou que classificam, estaria colocando limites, procurando definir algo que é, por sua própria natureza, infinito e inominável.
Blog It Rab - No seu currículo você fez cursos voltados à biopsicologia, arte terapia. Você também administra algum desses cursos utilizando suas obras, ou aplicando a arte como terapia?
Márcia Széliga - Sim, dou oficinas e cursos, porém, procuro separar o processo arte terapêutico do processo criativo para uma obra de arte ou ilustração, embora um processo possa colaborar com o outro, por um lado em significado, de outro em expressão.
Blog It Rab - Você fez uma especialização na Cracóvia? Que ensinamentos trouxe de lá e que agregou em suas ilustrações?
Márcia Széliga - Estudei Desenho Animado, que foi sempre um sonho de infância: meus desenhos ganharem vida própria. O que de mais importante trago de registro não é a linha reta de interpretação e expressão num começo, meio e fim, mas o que leva o ser humano a ser instigado a um questionamento, a ser despertado pelo encantamento, curiosidade, a desbravar-se em sua viagem interior, em seu pensamento e emoção e desvendar os mistérios da vida em sua Luz e Sombra.
Blog It Rab - Suas obras estão em alguma exposição ou algum projeto em andamento?
Márcia Széliga - Alguns dos meus desenhos desenvolvidos para a Ordem Rosacruz estarão em exibição junto de outros ilustradores durante a Convenção Rosacruz deste ano.
Blog It Rab - Com esta frase gostaria de finalizar as perguntas, pois acho que se encaixa perfeitamente em suas obras, que são ricas em representações, significados e linguagens. O que você me diria desta frase?
“Entra em teu barco do devaneio, desatraca no lago de pensamento, e deixa o sopro do firmamento encher tua vela. Com teus olhos abertos, acorda para o que está à volta ou dentro de ti, e abre conversa contigo mesmo; pois assim é toda meditação”. (Charles Sanders Peirce).
Márcia Széliga - UAU! Não fosse CSP ter escrito, eu diria que é de minha autoria! Pois é assim que me vejo quando estou realizando uma criação. E é justamente o sopro do firmamento que creio fazer de mim seu instrumento. E sendo assim, sinto todo universo dentro de mim e eu a ele completamente entregue e integrada nesse néctar vivo da Criação. Uma obra que bem representa essa frase está aqui: Sopro do Universo, uma visão que tive no espaço intermediário entre o sono e a vigília.
Márcia Széliga, no seu mundo imaginário da ilustração, consegue representar aquilo que não enxergamos com nossos olhos mas vemos com o com o coração.
Estes e outros obras podem ser vistos no site da artista http://marciaszeliga.wixsite.com/arte-poesia