O Haicai Tão Breve Quanto o Agora de Álvaro Posselt

O poema pode preencher pequenos instantes das nossas vidas, aceita um? É isto que o poeta curitibano Álvaro Posselt propositadamente faz, brinca com as palavras com várias temáticas, através de seus Haicais. É uma figura conhecida nos eventos literários como a Feira do Poeta e nas oficinas de haicai que ministra em escolas públicas.

Mas para eu entender melhor sobre nosso entrevistado de hoje, quis entender o que é um haicai e descobri que é um poema de origem japonesa, (hai = gracejo e kai = harmonia) que se constitui de dois elementos apenas, a brevidade e objetividade. Trata-se de um pequeno poema em que não é necessário haver rima dos versos, mas que é demarcado pela economia das palavras, com temas simples, captando um flagrante da natureza.

No cenário dos poetas existem alguns representantes em destaque como Paulo Leminski, Millôr Fernandes... e hoje, então, falarei sobre um representante curitibano que cultua essa forma poética, Álvaro Posselt.

Muito querido, Álvaro prontamente me atendeu no jogo de perguntas e respostas.

Blog It Rab - De onde surgiu a vontade de fazer haicai? Teve alguma influência?

Álvaro Posselt - Conheci o haicai quando frequentava a Oficina Permanente de Poesia, na Biblioteca Pública do Paraná, em 2003. Encantei-me por ser um tipo de poesia breve. Na mesma oficina, conheci o poeta José Marins, com quem aprendi e aprendo até hoje sobre a arte do haicai. Na faculdade, estudei essa forma poética japonesa, a qual virou tema de meu TCC, sob a orientação da também haicaísta, a professora Auricéia Dumke. Mais tarde, em 2008, comecei a acompanhar o blog da Alice Ruiz. Lá, postava meus poemas, um por dia, e ela tecia seus comentários. Isso foi um grande estímulo para mim. A partir de então, fui me encontrando, amadurecendo e lapidando minha forma poética. Surgiram premiações, meus textos foram publicados em jornais, revistas e blogs, participei de coletâneas. Em 2012, me sentia maduro para publicar meu primeiro livro. E assim foi!

Blog It Rab - Como surge a ideia para cada poema?

Álvaro Posselt - No começo os poemas surgiam num disparo a partir de uma ideia, uma frase. Meu lema era: se eu demorar mais de um segundo para fazer o poema, então ele não ficará bom. Depois fui ficando mais técnico, observador dos detalhes do poema, das rimas, da métrica, do ritmo. A ideia sempre está no ar, está nos instantes, no voo da borboleta, no canto do grilo, numa sensação de frio, no vento ou no silêncio. Basta a gente estar na frequência para capturar o poema.

Blog It Rab - Algum é especial para você?

Álvaro Posselt - Tenho vários dos quais gosto, mas um que me resume é este:

Viver, eu suponho,

é chicotear a realidade

montado no sonho

Blog It Rab - Além do livro Tão Breve Quanto o Agora, tem outro livro publicado?

Álvaro Posselt - Tenho 4 livros publicados, o Tão Breve (2012), Um Lugar Chamado Instante (2013), Entre Arranhões e Lambidas – Haicais & Gatos (2014) e Kaki (2015). Para este ano, tenho um livro infanto-juvenil aprovado pela lei de incentivo. Vai se chamar Na Sopa do Sapo. São haicais sobre insetos.

Blog It Rab - Este tipo de poema é bem aceito pelo público?

Álvaro Posselt - O haicai se popularizou. Depois do Japão, o Brasil é o país que mais o pratica. Ele faz parte da maioria dos livros de literatura. O Paraná tem muitos adeptos e é berço de grandes autores como Paulo Leminski, Alice Ruiz, Helena Kolody, Domingos Pellegrini e José Marins.

O haicai tem apenas três versos, o menor poema do mundo, é breve, de linguagem simples, mesmo assim ele é uma forma completa, que cabe numa cápsula poética. Quem não aceitaria um?

Blog It Rab - Onde você divulga seu trabalho além da internet?

Álvaro Posselt - Participo de feiras de livro nas escolas, de saraus poéticos e outros eventos literários. Além disso, faço voluntariamente oficinas de haicai em escolas públicas, cafés, parques, bibliotecas. Com isso, meu trabalho se divulga, surgem convites, as relações se ampliam, novas amizades, uma grande corrente moldada pela poesia! Eu quero que um dia Curitiba seja chamada de A capital da poesia!

Blog It Rab - Vi nas redes sociais, que a empresa Los Paleteros usará seus poemas para as embalagens de Poëse. Pode falar como esse convite aconteceu? Quando estará no mercado?

Álvaro Posselt - Por ser um pouco conhecido na mídia, cheguei aos ouvidos de uma empresa que presta assessoria a eles, a qual me apresentou. A concepção do Poëse tem muito a ver com o haicai, um sorvete em forma de haicai e vice-versa! O produto já está disponível nas franquias e apresenta quatro sabores. Estou muito feliz por fazer parte deste projeto, ainda mais quando a gente conhece as pessoas envolvidas e observa que há um acolhimento e um interesse que vai além do comercial.